sábado, 9 de agosto de 2014

Morar no cachorro



Decidi minha residência. Eu morarei na barriga de um cão. Ser engolido por meu Labrador, no chão de qualquer casa; habitar as costas peludas de um pastor, em grama ou terra batida; ir descansar na parede da esquerda, da direita, obedecendo as direções do termômetro, da ponteira de felicidade, do finalzinho das costas, do meu Yorkshire! 

Disse ao arquiteto que tenho pouca exigência. Eu quero meu espaço babado por meu cachorro. Essa coisa de móveis é bobagem. Não preciso de cama. Basta piso para mim, e mais para ele. Mas se faltar chão, vai bem: seremos coabitação. Moremos um no outro. Ignoro a razão de termos sonhos. Deveríamos ter cachorros. É suficiente voltar para casa: lugar das coxas arranhadas e canelas lambidas. 

O cão que tenho não late, porque canta. É assim ouvido de quem ama. Dele soltam-se muitos pêlos; sempre gostei de tapetes. Mas tem coisa que me chateia: o xixi e seu parente. E ai ele me dá os olhos e o focinho, e uma curta viagem ao pé da cadeira, que é como pede desculpa. Aí não tem jeito. Encomendo o sofá, dos mais caros, o mais bonito; e digo para o vendedor, gritando da janela: suba logo com isso, porque eu comprei só para ele! Nós viveremos bem, como romance infantil, terminando com os mesmos dizeres.

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