domingo, 3 de março de 2013

Epicuro, felicidade e minha Mãe


(Elliot Erwitt, não sei se já tinha postado ela aqui, mas tinha que ser...)


Tenho construído meu conceito de felicidade: saber lidar com a insatisfação. Epicuro disse que precisamos de amigos, liberdade e reflexão para sermos felizes. Parece insuficiente pra mim, porque é possível ter tudo isso e ser infeliz. O homem tem um dom: encontrar a dor em qualquer paraíso. É um talento de permanecer descontente. Então, acredito que se eu souber lidar com a incapacidade de satisfazer meus desejos, serei feliz. 

Vi uma frase: “O homem que não se contenta com pouco, não se contentará se for dono do mundo”. Ela não quer dizer que eu deva parar de desejar. Os desejos são a força motriz das nossas conquistas. Mas é preciso compreender que não podemos ter tudo que queremos.

O caráter de alguém não estará completamente moldado, até que perca alguém que ame. Como a pessoa reage a esse tipo de perda é o que determina o que ela será a vida inteira. Alguns, mais fracos, se revoltam e passam a vida querendo rebater. Outros, sofrem, suportam e entendem que a natureza do mundo difere da justiça dos homens. São os generosos que, ao sofrer, resolvem fazer o bem. 

A morte da minha mãe terminou de formar meu caráter. Dói, porque definitiva. É um desejo meu que nunca será satisfeito. Tê-la de volta, o suficiente pra pôr em prática algumas frases que eu mentalizava, quando ela era viva. Dos maiores erros da gente: esconder as frases de amor dentro de nós! 

Passará a vida inteira e carregarei essa insatisfação comigo. Eu poderia ter um lar com os melhores amigos. Poderia possuir a maior varanda no quarto, onde pudesse passar quantos dias quisesse. Ou poderia ter jardins como os que Monet pintava, bem no quintal de casa. Se eu tivesse o relógio do mundo parado, cujo funcionamento dependesse da minha vontade e paz, pra que eu pudesse pensar sobre tudo da vida, em um segundo... Eu não estaria feliz, se incapaz de acalmar a dor que a morte da minha mãe há de causar a vida inteira. 

sexta-feira, 1 de março de 2013

Amor




Quero refazer o dito “eu te amo”. O amor não é um estado presente. Quase sinônimo de cuidar, posso dizer “eu cuido de você”. Mas amar alguém requer um conjunto de cuidados. Não é um beijo ou um abraço que constrói o amor. O singular não combina com ele. É a inconstância da vida inteira que o forma. O tempo do amor é o passado. A sua força, o plural incontável. 

Cuidar não pressupõe alegria permanente. Quem ama aprende a domar o incômodo dos próprios vícios. Ou, pelo menos, continua tentando. Sempre. Quando verdadeiro, esse sentimento é puro favor. Sacrificamos muito e sorrimos quando recebemos nada. Poucos sabem da delícia rara da troca! Embora saber seja desnecessário. O amor é preenchido de muitas coisas, mas a principal é a gratuidade.

Sobre o amor, é verbo de um só período. Não cabe em promessas, nem casa bem com o presente. São estes tempos da paixão. Entre a vida compartilhada e a coroa do seu fim, o dito é refeito. Por pura crença, assim o quero. Sem certeza do argumento, nem da resposta. “Eu te amei”, é o meu desejado conceito de amar.