Não gosto das buzinas de Recife porque prefiro minha casa de Dorival Caymmi. Lembro, preciso comprar pão. Mas Caymmi canta e a padaria é perto, mas perto de trânsito, que é mesmo que longe, muito longe.
Ouço Caymmi enquanto vejo, bem aqui na minha frente, o coqueiro anão e preguiçoso - o lar oferecido ao descanso das drupas. E ao meu também. Coqueiro: me lembra cadeira, pernas aéreas, vontade de sesta… Não lembra automóveis.
Mas preciso comprar o pão. Mas tenho necessidade de ouvir o término da frase cantando “Vivo na beira da praia, com a sorte que Deus me deu…”. Mas preciso ir à padaria. Mas a vontade é dizer não. Mas vou. Mas fico.
Mas e mas… vivo entre esses poréns. Por que não dá pra comprar pão e ouvir Caymmi, sem barulho de buzinas? Por que não posso ir à padaria e ficar, ao mesmo tempo, aqui, no meu descanso musical?
Pois é assim viver em cidade que tem sido grande. Queria que fosse menor.; pequena e silenciosa, sabedora da grandiosidade do músico. Não há cidade tão grande quanto a voz grave, certeira, descansada, do meu amigo de paz… Dane-se isso de comida! Decreto meu regime e fico sem pão. Tudo é algo que não cabe na vida. Canta, Dorival.