A seleção canarinha entrou em campo. Não precisou de muito tempo e o
adversário já danava-se nervoso a assistir a bola girar. Quando
assistimos ao mágico, primeiro ficamos aturdidos com a audácia dos
baralhos, que somem sem razão; depois tudo fica pior, porque teimamos em
querer explicar o sumiço; e é em vão.
A seleção canarinha é também assim. Joga escondendo coelhos: os adversários querem o que vai na cartola, mas, não conseguindo, ficam como meninos emburrados, sem a bola. E aí ficam permitidos a perder.
Depois que é dada essa permissão, e o placar ainda é zerado, a bola cansa e pede rede. Essa coisa de rodopiar é bem espanhola; gira, gira, fica tonta e vai embora. Com a seleção canarinha é diferente. O passe não é brincadeira de pião, mas dança com objetivo definido: muitos aplausos no salão.
Olhem o passo do camisa 10. É certo que jogador mata a bola no peito quando dá. Mas o craque, não. Ele doma quando bem quiser. Foi assim a primeira grande arte que me recuso a chamar só de gol. Gol é o que faz o buraco da grama, que desvia a bola depois de chute acidental de jogador qualquer.
Craque pede por outro vocabulário. Bola envolvida nos lençóis de duplo peito: primeiro o do tórax, depois do pé. Esse é o caminho para que durma nas redes. E o sono é melhor quando tem a trave - é um beijo de boa noite. Anoitecia e era 1x0.
Volto aos espanhóis. Poderia deixá-los quietos. Mas foram campeões do mundo e merecem mais aperreios. Tico e taca, teco e tico, tuco e toca, sei lá como chamam o futebol por lá. Tentando decifrar o apelido que inventaram, passam quatro anos de cronômetro; nem acho no dicionário, nem sai gol nenhum.
Mas com a canarinha é diferente. Os toques são tão bonitos porque têm destino certo. Se recorresse ao meu Casio, marcaria menos de dois minutos de passe; mas quando o gol saiu, queria que tivessem durado o intervalo das copas. Golaço deixa um sorriso no rosto e uma saudade antecipada. Fez-se 2x0. Mas fez-se também um amante do futebol bem jogado homem lesado; sorrindo no sofá com todas as razões.
Quem dera eu poder dizer que falei sobre a seleção brasileira. Canarinha foi a Colômbia. Sobre a nossa, basta breve resumo. Lembram o tênis Le Cheval (acendia quando pisávamos)? Pois bem, nossos jogadores têm chuteiras com a mesma tecnologia, mas com defeito: ao invés de acenderem as luzes, dão choque.
Chile merecia vencer; mas Júlio César fez acordo com donos de barraquinhas de fogos e prosperou. Minha cadela não gostou, nem eu. Ela tem medo de peido de velha, palitinho, rojão. Eu, pena do futebol: seleção pentacampeã não pode ter ataque que, em jogos decisivos, prefere o silêncio de uma arquibancada quieta. Esperemos as quartas - cantará a canarinha que for verdadeira.
A seleção canarinha é também assim. Joga escondendo coelhos: os adversários querem o que vai na cartola, mas, não conseguindo, ficam como meninos emburrados, sem a bola. E aí ficam permitidos a perder.
Depois que é dada essa permissão, e o placar ainda é zerado, a bola cansa e pede rede. Essa coisa de rodopiar é bem espanhola; gira, gira, fica tonta e vai embora. Com a seleção canarinha é diferente. O passe não é brincadeira de pião, mas dança com objetivo definido: muitos aplausos no salão.
Olhem o passo do camisa 10. É certo que jogador mata a bola no peito quando dá. Mas o craque, não. Ele doma quando bem quiser. Foi assim a primeira grande arte que me recuso a chamar só de gol. Gol é o que faz o buraco da grama, que desvia a bola depois de chute acidental de jogador qualquer.
Craque pede por outro vocabulário. Bola envolvida nos lençóis de duplo peito: primeiro o do tórax, depois do pé. Esse é o caminho para que durma nas redes. E o sono é melhor quando tem a trave - é um beijo de boa noite. Anoitecia e era 1x0.
Volto aos espanhóis. Poderia deixá-los quietos. Mas foram campeões do mundo e merecem mais aperreios. Tico e taca, teco e tico, tuco e toca, sei lá como chamam o futebol por lá. Tentando decifrar o apelido que inventaram, passam quatro anos de cronômetro; nem acho no dicionário, nem sai gol nenhum.
Mas com a canarinha é diferente. Os toques são tão bonitos porque têm destino certo. Se recorresse ao meu Casio, marcaria menos de dois minutos de passe; mas quando o gol saiu, queria que tivessem durado o intervalo das copas. Golaço deixa um sorriso no rosto e uma saudade antecipada. Fez-se 2x0. Mas fez-se também um amante do futebol bem jogado homem lesado; sorrindo no sofá com todas as razões.
Quem dera eu poder dizer que falei sobre a seleção brasileira. Canarinha foi a Colômbia. Sobre a nossa, basta breve resumo. Lembram o tênis Le Cheval (acendia quando pisávamos)? Pois bem, nossos jogadores têm chuteiras com a mesma tecnologia, mas com defeito: ao invés de acenderem as luzes, dão choque.
Chile merecia vencer; mas Júlio César fez acordo com donos de barraquinhas de fogos e prosperou. Minha cadela não gostou, nem eu. Ela tem medo de peido de velha, palitinho, rojão. Eu, pena do futebol: seleção pentacampeã não pode ter ataque que, em jogos decisivos, prefere o silêncio de uma arquibancada quieta. Esperemos as quartas - cantará a canarinha que for verdadeira.
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