segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Césio-137

(Peter Marlow)


Um homem ficou maravilhado com o brilho produzido por aquela substância. Era um ignorante e, por isso, mergulhou o corpo naquela piscina estranha. Ele queria correr pelas ruas chamando a atenção dos vizinhos, iluminando a noite do bairro. Seria legal ter a pele brilhante com uma roupa de césio-137. 

Um homem ficou maravilhado com as curvas da mulher estranha. Era um ignorante e, por isso, não pensou na família que construiu. Nem na companhia que teria na velhice. Nem na beleza de compartilhar com alguém, sinceramente, a história da vida inteira. Ele queria uma noite de sexo com um modelo de corpo tão bonito. Seria legal jogar tudo fora, por uma noite de gozo. 

Um homem ficou maravilhado com a maleta cheia de dinheiro. Era um ignorante e, por isso, não sabia que o patrimônio verdadeiro é o construído pelas redes neurais. Pelo conhecimento compartilhado. Pelas relações afetivas. Pela paz de espírito. Ele queria comprar alguma coisa grandiosa. Ele queria exercer poder. Seria legal vestir-se de ouro e ter a fome de Midas.

Assim é o homem. Sofre de desvio causado por ignorância. O prazer é, realmente, o objetivo da vida. Mas existe em várias formas. Há o prazer que causa o césio-137: imbecil e fatal. Mas há também o conhecido pelos que pensam um pouco. Um torna a vida vazia e condenada. O outro traz orgulho por ter vivido por mais um grande dia.

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