O amor foi assassinado. Disse o autor do infortúnio que não existem mais flores intencionadas. Sepultou no passado as serenatas. Cobriu de pano negro a melodia dos poetas corajosos, que tinham como única luz aquela da janela nunca alcançada! Em uma conversa de balcão, arrematou: isso de amar é coisa superada.
Pontuou que o destino de amar é a traição realizada. Esbravejou contra a primeira discórdia e manifestou algo sobre experiência confirmada. Ele ousou. Afirmou que o mundo é feito por infiéis em suspensão.
De onde vem tanta descrença? Talvez de pesquisa profunda sobre o andar dos corações alheios. E quão sábio ele seria! Mas há quem aposte em uma ignorância mascarada. Quase ponho fichas nesta idéia sedutora: incapaz de confiar, teve a esperança enterrada!
Melhor detalho o caso. O infrator tem ao lado uma mulher que o premiou com duas crianças. Fez família invejada. Cumpriu as tarefas naturais da vida e formou um belo modelo de lar.
O homem, esse homem, tem tudo. Poderia, ao final do dever diário, romper a sala de estar à procura do cuidado e do carinho. Dar à esposa um beijo inteiro, sem as presilhas da desconfiança. Falar bobagens de gente apaixonada, querendo mesmo parecer idiota. Oferecer, ao olhar das crianças resistentes à cama, um abraço de pai mergulhado!
Mas a casa que quis visitar não foi a desse cenário perfeito. Preferiu dar ao peito o destino do medo. Conquistou o argumento de que temer é vestir-se armado e tornar-se imune àquela ameaça. Enrugou, então, os beijos. Deixou fria a mão que, incapaz, não servia de vestido à pele da esposa. Viu no retrato que guardava os três sorrisos dos quais era dono. E o emborcou na primeira mesa.
Foi assim que ouvi sobre a morte do amor. Um contado de alguém satisfeito e ignorante da própria fortuna. E faço bem em concluir que ele assim narrava: sorrindo, orgulhoso de sua proeza.
(Cornell Capa)
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